Sempre que caminho pela trilha do Bosque Areião, em Goiânia, olho o bambuzal. São gigantes seres verdes que se movem com o vento, em direção ao céu. Os bambus são tatuados com uma camada de peles de rabiscos, letras e declarações de amor. São tatuagens feitas com ponta de faca para deixar cicatrizes de escritos, registros, marcas, permanências, grafites, micro narrativas. Costuram tempos, orientações sexuais, modelos de relações, desejos. “Eu te amo”, “Thi e Sue e Kar” (com coração), “Sandro e Lelê, L’amore”, “Patrícia e Tatá”, “Castan, Aiasa 19/09/2014”, “Gabi 13/07/2010”.
As artes complexas, tais como o teatro, além de serem interdisciplinares em sua carne, cerne e constituição, no contemporâneo participam de uma contaminação ainda mais potente com o mundo. Os bambus do bosque assoviam, com as imagens em seus troncos vivos, que um dia, pessoas estiveram ali e deixaram seus vestígios de amor. Desenharam seus afetos de amores e dores. As imagens são performáticas, pois presentificam e atualizam o acontecimento do encontro de pessoas que estiveram naquele lugar um dia e deixaram seus afetos cravados. Os bambus são vivos, continuam a crescer e modificam-se a cada momento, ou seja, está em curso. Assim como as imagens também são vivas, têm vida de acontecimento e de natureza que se move na paisagem conectada às pessoas e sensações.
As imagens impressas nos troncos falam que as capacidades da produtividade humana estão ligadas ao viver e às sensações. As criações e labores que encostam no cotidiano, são invenções consteladas aos produtos da criação humana historicamente ligadas às artes e também à criação de estruturas éticas, sociais, políticas, cientificas e tecnológicas.